Último mergulho
Eles resistiram
Ao sol abrasador do meio dia
Aos choros e gritos das crianças
Aos vendedores ambulantes
Às bolas perdidas
Eles olharam de frente o sol
Não recearam os seus raios
Não tiveram medo das ondas
Nem das rochas
Mergulharam com todo
O seu fôlego
Quase que tocavam os peixes
Nadaram até ao limite
Como se o horizonte não fosse infinito
Eles souberam esperar
Ler algumas páginas
Fumar um cigarro
Ou simplesmente
Sentar à beira mar
Eles resistiram ao dia
Esperaram pelo crepúsculo
Aquela hora mágica
Em que as sombras aumentam
As cores desvanecem, esbatem-se
Em que o areal se esvazia
Aos poucos
O silêncio chega
Interrompido pelo desenrolar das ondas
As primeiras estrelas ocupam os seus lugares
O horizonte fica tingido por uma linha laranja
Que vai escurecendo até ficar quase imperceptível
Eles resistiram
Esperaram para dar o último mergulho
Numa comunhão total
Naquela praia que afinal
Era só deles