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Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

Templo

12.03.12 | Alice Barcellos

Quando lá cheguei vi um mar como nunca tinha visto. Uma areal que descia até à água. Ondas revoltas e fortes. Rochas. Naquele dia, a maré estava cheia e não consegui ver a quantidade de rochedos, pedras e seixos que se escondiam por baixo do mar revolto e azul-cinzento.

Com o tempo, aprendi a gostar tanto daquela da praia que deixei de estranhar a água gelada, as pedras a baterem contra as canelas ou a arranharem os pés e as algas, que por vezes também apareciam, enrolando-se em nós como enguias gigantes.

Aprendi a estudar cada molusco e mexilhão. Aproveitei as manhãs de maré baixa para andar no labirinto de rochas que tinha o privilégio de ver quando o mar assim o permitia.

Tive medo de mergulhar no dias de ondas mais fortes, mas nunca hesitei em  atirar-me de cabeça nos dias em que o mar era uma piscina azul-esverdeada.

Ali brinquei, ainda tive tempo de aproveitar o fim da minha meninice junto ao mar. Inconscientemente entrava num mundo de faz de conta enquanto escolhia o seixo mais bonito, que depois ficava seco e sem cor quando chegava à casa.

Mas também cresci. Os anos passaram. Eu regresso sempre. Já não tenho saudades, tenho nostalgia. No meio dos rochedos daquela praia, ergue-se uma capela, local de culto pagão antes de ser casa da fé cristã. O meu templo fica mais ao lado, quando, sentada na areia, aprecio a obra natural, coroada por uma singela obra humana.