O que fica da semana (Outono, Milan Rados e Fundações)
O outono chegou, bateu à porta e entrou, assim meio sem jeito, assim meio velhaco. Preferiu dar o ar de sua graça numa noite de chuva, onde, já no conforto da cama, imaginamos um senhor Outono a chegar com um guarda-chuva de baixo do braço, um cachecol surrado ao pescoço e uma barba grisalha por fazer.
A mudança das estações do ano sempre me tocou desde que vivo em Portugal, e não me venham dizer que já não existem estações pois só quem viveu num país tropical sabe que elas estão bem presentes aqui. É o passar do tempo que se torna mais real, que não corre apenas nos dias e nas semanas, mas também no renascer das flores ou no amarelar das folhas.
Esta semana, fomos confrontados com a morte de Milan Rados, um nome que não diz nada a muitos, mas foram mais do que eu pensava, antigos alunos do curso de jornalismo da Universidade do Porto, que prestaram uma homenagem singela e sentida a este antigo Professor.
Milan Rados ensinou-nos a complexidade das relações internacionais e da História de uma forma simples, mas sem nunca facilitar. Se algumas datas ou nomes ouvidos nas suas aulas podem já estar apagados da minha memória, a sua simpatia e sinceridade, refletidas num olhar azul, não vão desaparecer nem depois de muitos outonos.
Desta semana, fica também mais uma demonstração da falta de sensibilidade que este Governo tem com a Cultura. O corte de apoios a fundações que fazem um excelente trabalho, como Serralves ou Casa da Música, e a possível extinção de outras, como a Fundação Paula Rego, é mais um desfalque numa área essencial para sermos um país melhor.