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Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

As ondas gigantes da Nazaré

31.10.13 | Alice Barcellos

A onda é um monstro marinho que corre atrás da presa, abre a sua boca enorme e cospe espuma branca. A onda é um muro cinzento que desaba em cima daqueles que tentam descobrir os segredos da sua casa - o mar.

O monstro foi domado e a casa explorada esta semana na Nazaré, mas também na França e na Espanha, de onde também chegaram imagens incríveis. Ainda bem que estes feitos são cada vez mais mediatizados – guerras entre marcas e intrigas entre surfistas à parte.

O mar e as ondas sempre despertaram em mim uma enorme admiração. No surf consegue-se momentos de pura simbiose entre mar, ondas e homem. E por isso é também um desporto, acima de tudo um estilo de vida, que admiro muito.

Surfar ondas gigantes é outra praia. É desafiar o mar ao máximo, é por a vida em risco em cada onda. Mas deve ser algo inesquecível, estar ali rodeado de água, a descer uma montanha de onda. A ouvir a força do mar, a manter o equilíbrio físico e mental, numa concentração total naquele momento. Por mais que se analise o tamanho da onda, a velocidade, que se fale em recordes e em questões técnicas, as imagens falam por si. Impressionam sempre, quer seja uma onda com mais ou menos metros.

Esta semana estive também na Nazaré. Vibrei, arrepiei-me e impressionei-me. Temi por Maya Gabeira, um nome descoberto recentemente. Mas tudo acabou bem. O monstro ainda dorme e os muros desapareceram como castelos de areia. Por agora. A partir de amanhã tudo pode mudar.

P.S. Ainda sobre Maya Gabeira, que entrou nas bocas do mundo pelos piores motivos. Já li por aí acusações de que ela não tem preparação física e é inconsequente por arriscar-se neste "campeonato". Eu digo que se ela vai é porque se sente preparada. Uma atividade tão extrema como esta não pode ser encarada como um luxo ou como uma exigência de algum patrocinador. Claro que existem fatores externos, mas acima de tudo é a vontade de ultrapassar limites, arriscar, o vício pela adrenalina e, não menos importante, o gosto pelo surf e a paixão pelo mar que movem estas pessoas, quer sejam homens ou mulheres. Afinal, há cada vez mais mulheres no surf, mas poucas ainda se aventuram nas ondas gigantes. A Maya é quase um peixe fora de água num aquário ainda dominado por tubarões. Espero vê-la ano que vem na Nazaré.

Velhos hábitos

09.10.13 | Alice Barcellos

Comprar o jornal, ter tempo para ler um bom livro, falar ao telefone com um familiar que está longe ou marcar um encontro com alguém que nem sempre vemos mas que é uma pessoa importante na nossa vida.

Velhos hábitos que parecem estar a cair em desuso, a julgar por muitos exemplos no nosso dia-a-dia. Eu própria estava com o “vício” de antes de ir dormir estar na cama a navegar no meu iPhone... Redes sociais, notícias, e-mail, enfim, tudo aquilo que já me rodeia durante o dia de trabalho. Decidi deixar-me disso e, em troca, leio algumas páginas de um livro. Resultado: voltei à minha rotina de leituras, consigo desligar-me melhor do dia de trabalho que fica para trás e embarcar numa noite de sono mais tranquila.

Claro que nem sempre isso vai acontecer, vai haver dias que vou querer dar uma espreitadela no Facebook, por exemplo, no dia do meu aniversário. Quem não fica contente em receber centenas de mensagens de parabéns no seu mural? A resposta é óbvia mas, sem retirar o valor destas felicitações, considero que é cada vez mais impessoal deixar votos de aniversário via redes sociais. Quando são pessoas mais afastadas, colegas de trabalho, ou, enfim, aqueles “amigos” apenas virtuais, compreende-se perfeitamente. Agora, amigos próximos e familiares é diferente. Nada substitui um telefonema, uma troca de palavras e, se for possível, uma troca de olhares e abraços.

Cada caso é um caso, e há quem possa, felizmente, estar com a família reunida nas datas especiais. No meu caso não é assim e sei a importância que um telefonema ganha quando temos um oceano a separar-nos.

Este texto é um manifesto aos velhos e bons hábitos. Comprar o jornal num sábado de sol e ter o dia para o degustar. Devorar um bom livro, mesmo quando o tempo é escasso. Ligar a uma pessoa querida que está longe, quer seja no dia do seu aniversário, quer não. Pode ser num dia qualquer. Ligar para dizer “olá”, perguntar se está tudo bem, dizer que temos saudades, mostrar o nosso afeto. São pequenos gestos, pequenos grandes gestos de felicidade.