Há alguns anos que não tiro férias em agosto. A decisão não fez parte de nenhuma posição fundamentalista ou anti-social, muito pelo contrário, gosto de trabalhar no mês em que (quase) toda a gente vai de férias. Gosto de ver a cidade cheia de turistas e de aproveitar os fins de semana como se eles fossem, por si só, umas mini-férias.
Até pode parecer estranho que uma pessoa assumidamente do verão e da praia não queira aproveitar o tão querido mês de agosto para ir a banhos e dedicar-se ao dolce far niente. Mas, a verdade é que, fruto das agendas familiares, risquei agosto do meu mapa de férias e não me arrependo.
Começando pelo bom tempo. Nem sempre temos o melhor mar em agosto, mas isso também é uma questão de sorte – já apanhei marés vivas no Mediterrâneo e vi aquele mar-piscina transforma-se num festival de ondas. Cá pelo Norte, o vento tem vontade própria e sopra frio quando ele bem entende. Por isso, os dias espetaculares de praia podem acontecer em qualquer altura do verão (e, às vezes, da primavera). A água é gelada, salvo alguns dias em que está fria, mas também o é no Algarve, quando não temos sorte (já está visto que o verão combina com a sorte) de apanhar umas correntes mais quentes. Posto isto, agosto não é o mês, por excelência, do bom tempo.
Trabalhar em agosto é descobrir o verdadeiro prazer de conduzir na cidade, neste caso, no Porto. Pode parecer descabido, principalmente para quem não gosta de conduzir ou não tem paciência para o para e arranca. Mas, em agosto, é raro haver trânsito e as horas de ponta são suaves. Vou e volto do trabalho sem ter a preocupação do trânsito, aproveitando para curtir a paisagem, vidros abertos, cabelos ao vento, atravessando as “minhas” pontes preferidas e vendo a cidade a viver os seus dias de glória.
Se muitos fogem da cidade este mês, outros tantos chegam para a conhecer. Os turistas pintam o Porto o ano todo, é certo, mas em agosto trazem outro colorido, com mais azáfama nas esplanadas e nas ruas da baixa. Câmaras fotográficas ao ar, pernas ao léu e sandálias nos pés. Misturam-se com os locais nos cafés e restaurantes da moda ou são capazes de estar horas na fila para entrar na livraria Lello. Vida de turista...
Para quem fica a trabalhar, espera-se pelos dias de fim de semana e de folgas religiosamente – mas isso acontece o ano inteiro, não é? Em agosto, a vantagem é que os dias de folga são, inevitavelmente, dias de praia, a não ser quando chove. É quase como se entrássemos de férias a cada sexta-feira. E que bem que sabe poder gastar o tempo livre com mergulhos no mar e Bolas de Berlim. As segundas começam sempre melhor em agosto.
É por isso que, mesmo a trabalhar, este é um mês querido e esperado. E quando dou por mim, com os pés afundados na areia da praia, vejo agosto a ir embora, como uma onda que se desenrola entre os meus dedos.
And so with the sunshine and the great bursts of leaves growing on the trees, just as things grow in fast movies, I had that familiar conviction that life was beginning over again with the summer
F. Scott Fitzgerald, The Great Gatsby