Cusco: primeiro deixa-te sem ar, depois ensina-te a saborear com calma
Chegamos a Cusco. Está frio. O aeroporto é mesmo pequeno. Fugimos aos apelos de táxis logo à saída da porta principal para evitar possíveis preços inflacionados e buscamos outras opções de transportes até ao centro da cidade. Uma delas seria um autocarro cujo bilhete custa 1 sol, mas, ainda sem muito à vontade e com cansaço acumulado das viagens, acabamos por apanhar um táxi que ali circulava - e que por 10 soles nos deixou à porta do hotel.
Pelas janelas do carro, ao som de música tradicional peruana, vamos sendo apresentadas a Cusco. A primeira impressão não é a mais bonita. Mas é real. Aquela que vemos nas deslocações físicas e não nos feeds de Instagram. A cidade desordenada, entre prédios com tijolos à mostra e habitações pobres. São poucos os minutos que separaram o aeroporto do centro da cidade e é fácil perceber quando chegamos a esta zona mais turística: parece que saímos da América do Sul e entramos na Europa, mais precisamente em Espanha.
A Plaza de Armas é a sala de visitas de Cusco. Com os seus edifícios coloniais, arcadas e sacadas, a catedral e a igreja, os jardins floridos e uma fonte. A imponência do lugar deixa marcas. E só ainda espreitamos da janela do táxi. Mais tarde, aprenderíamos que a praça não é só a sala de visitas, é o coração da cidade, pulsando ao ritmo dos que por ali passam: turistas, sempre; vendedores, chatos q.b.; locais, a passear aos fins de semana; crianças de uniforme a sair da escola ao fim da tarde; cães, muitos, integrados na paisagem.
Chegamos ao hotel. Respiramos fundo mas parece que o ar não chega. A altitude faz-se sentir e afinal não é só um aviso que lemos antes de viajar. É preciso ter calma, fazer a aclimatação aos 3.400 metros. O chá de coca é um dos grandes aliados e saboreamos o nosso primeiro - de muitos - no pátio interno do hotel, a apreciar a bonita arquitetura deste antigo palácio colonial. No meio do pátio, um pequeno chafariz enfeitado com lírios fúchsia. Lindo!
Muitos dos edifícios coloniais de Cusco foram erguidos sobre as bases de pedra dos palácios incas. A cidade era a capital do império inca mas os espanhóis eliminaram quase por completo o património edificado. A caminhar pelo centro de Cusco reparamos nos vestígios incas, pedra sobre pedra, em alguns edifícios coloniais e no resistente Coricancha, o templo do Sol, que ainda é visível por baixo do Convento de Santo Domingo.
Para ficar a conhecer mais sobre os incas e os outros povos originários do Peru e dos Andes, é obrigatório entrar no Museu Inka. Um ótimo complemento para ajudar a assimilar tudo o que aprendemos nas visitas a Machu Picchu e ao Vale Sagrado.
É com passos lentos, aqui não vale a pena ter pressa, que melhor se conhece o centro da cidade, em que a Plaza de Armas é o ponto de partida e de chegada para explorar outras praças mais pequenas, o mercado, os centros de artesanato, as lojinhas, os cafés e os restaurantes.
E por falar em restaurantes, não poderia ter ficado com melhor impressão desta cidade. Não comemos mal uma única vez e tivemos mesmo das melhores experiências gastronómicas das nossas vidas no Morena Peruvian Kitchen e no Organika.
Por ordem na imagem: Causa limeña, salada andina com quinoa, ceviche de truta, rocoto relleno (pimento recheado) com pastel de papa e picarones - uma pequena amostra da gastronomia peruana
Diferentes no conceito e nos pratos, estes espaços tinham em comum a frescura dos ingredientes - do campo para a mesa -, o cuidado na apresentação dos pratos - uma salada sem flores fica sem graça - e na simpatia dos funcionários. Comida deliciosa, sem modas e a um preço acessível. Recomendo e voltaria a Cusco só para ir outra vez a estes restaurantes.
Na nossa última noite em Cusco, depois de comer no Organika, demos mais um passeio pela Plaza de Armas. A temperatura caíra, a lua cheia brilhava no topo da Igreja da Companhia de Jesus. Aconcheguei-me no meu cachecol comprado em Chinchero, quentinho, de lã de alpaca, e tentei guardar para sempre aquela cidade na minha memória. Mal eu sabia que ela já tinha conquistado um espaço no meu coração.
Mais sobre esta viagem:
Machu Pichu: é tudo isso e muito mais
Vale Sagrado: engenho e arte inca numa paisagem arrebatadora