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Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

Pausa para café

27.08.19 | Alice Barcellos

- Boa tarde, o que vai ser?

- Um café.

- Não quer nada para acompanhar? Uma queijada, um queque, uma natinha?

- É só o café, se faz favor.

Traz-me só o café. Não precisa ser curto, nem cheio, com açúcar ou pau de canela. Não quero bolos, não quero mais nada, a não ser uma chávena branca com aquele inconfundível líquido castanho escuro. Que sabe tão bem como cheira. Que me faz tão bem quanto sabe. 

- Cá está o café, não se quer sentar?

- Não, obrigada, fico ao balcão.

Fico aqui neste balcão e por alguns minutos penso apenas em beber o meu café, reparo na atividade das empregadas que lavam a louça estridentemente e falam mais do que pensam. Deixo-me estar aqui ao balcão e sou só mais um igual a tantos outros que por aqui passam. 

Agora, só quero sorver este café. Lá fora, a vida continua a passar com pressa. A cidade continua a pulsar com ânsia. As pessoas continuam a precisar de ajuda.

Mas quando estou aqui ao balcão e bebo este café, é como se tudo parasse no meio de três goles. 

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Imagem: Pixabay

Funeral de um glaciar, icebergs em velocidade cruzeiro e Amazónia a arder

21.08.19 | Alice Barcellos

Em Portugal, mais precisamente, no microclima que temos entre Gaia e Espinho, o verão está tímido. A silly season está no seu auge e já todos contamos os dias para o reboliço de setembro. Ou não. Já que daqui a nada vamos entrar em modo eleições e vamos querer voltar no tempo para os dias parados de agosto.

O resto do mundo vive dias de emergência. No Mediterrâneo, há pessoas, aquelas que conseguem sobreviver, à espera em barcos, enquanto a Europa desvia o olhar e os vários países envolvidos tentam fugir das responsabilidades. Em Hong Kong, protesta-se por mais liberdade e democracia. Na Rússia também, mas estes protestos já foram, entretanto, esmagados.

Mas o que vai marcar mesmo este verão de 2019, na minha humilde opinião, é o estado de emergência climática em que vivemos e que parece não preocupar quem pode tomar decisões para virar o jogo. 

No Canadá, na região chamada de "corredor de icebergs", o trânsito é intenso. Estes gigantes de gelo descem em velocidade cruzeiro da Groenlândia para virem morrer na ilha de Terra Nova. Para deleite dos turistas que embarcam em barquinhos para irem ver icebergs que deveriam ter ficado congelados por muitos e muitos anos. Mas derreteram. Nunca os nossos glaciares derreteram tanto e em tão pouco tempo. 

Nem de propósito na terra do fogo e do gelo, foi feito um funeral de um glaciar. “Nos próximos 200 anos, estima-se que todos os nossos glaciares sigam o mesmo caminho. Este monumento serve para reconhecer que nós sabemos o que está a acontecer e o que precisa de ser feito”, lê-se na descrição da placa colocada para honrar Okjökull.

O glaciar islandês já não existe e as fotos de satélite mostram como é impressionante a morte declarada do "Ok". Em 1980, o glaciar cobria 16 quilómetros quadrados de superfície. Em 2012, a extensão coberta era de 0,7 km2, segundo um relatório da Universidade da Islândia. É mais um exemplo de como as alterações climáticas estão num caminho imparável e o que para nós pode parecer muito tempo, para o planeta é demasiado rápido. 

Para completar este cenário negro, a Amazónia está a ser destroçada. Os números do desmatamento estão a atingir recordes, e as queimadas desta semana, cujas imagens se tornaram virais, são a face mais visível da destruição de uma das maiores riquezas do nosso planeta. E, mais uma vez, quem pode tomar decisões para evitar não se pronuncia, não age e, provavelmente, até vai beneficiar com a exploração dos recursos da maior floresta do mundo - será que ainda a podemos chamar assim?

É desesperador. Quem não pensa nisso, nem que seja por alguns momentos, vive com a cabeça na lua. Pior é pensar que estamos quase de mãos atadas no que toca a estas questões. Podemos com pequenos gestos tentar contribuir para reverter a situação mas, infelizmente, os verdadeiros donos disto tudo não mostram interesse em tentar melhorar o planeta para as gerações vindouras. Até quando vamos continuar a assistir à nossa autodestruição?

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Imagem: Iceberg em Terra Nova / Pixabay

Verão a Sul: começar no Algarve, terminar no Alentejo

09.08.19 | Alice Barcellos

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Com a promessa dos dias claros, das águas transparentes e mais amenas, um pedacinho do meu coração vive sempre entre as falésias douradas do Algarve e bate mais forte quando a saudade aperta.

Este ano lá fomos nós, início de junho, das praias vazias, das buganvílias floridas, do tempo de relaxar e desligar das rotinas do dia a dia. A água estava mais fria do que o habitual e o vento soprava de Norte, arrefecendo as noites e os amanheceres.

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Mas, como nada acontece por acaso, até calhou bem o plano de fugir mais uns dias para o interior, mais precisamente, o interior do Alentejo - de searas douradas e vinhas a perder de vista.

image00039.jpegTivemos como poiso Reguengos de Monsaraz, num refúgio que recomedo para quem quer explorar a região. Ficamos hospedados no Outeiro do Barro, um alojamento local que fica numa quinta vinícola tipicamente alentejana. Pequenas "casinhas" brancas e azuis que foram transformadas em quartos espaçosos e com uma decoração muito cuidada. A piscina e o espaço exterior são ótimos para relaxar e conviver de dia e de noite. A Rita recebeu-nos muito bem e explicou-nos como poderíamos explorar a região a partir dali. O pequeno-alomoço era ótimo - informação importante para quem, como eu, valoriza este ponto quando vai para hotéis.

image00038.jpegApreciar o contraste do azul do Grande Lago com o dourado dos campos. Conhecer a aldeia que ficou envolta com água por quase todos os lados (Aldeia da Luz), percorrer as ruas estreitas e floridas de Moura. Saborear a gastronomia alentejana. Percorrer as vinhas da Herdade do Esporão. Mergulhar na praia fluvial do Alqueva. Descobrir castelos perdidos e ver um dos pores do sol mais belos de sempre do alto da vila medieval de Monsaraz. Este último momento foi, sem dúvida, um dos pontos altos desta viagem e creio que as fotografias falam por si. 

image00025.jpegimage00026.jpegimage00028.jpegÉ tão bom quando podemos ser turistas no nosso país e somos supreendidos por lugares tão especiais. É por essas e por outras que digo sempre: Portugal é lindo e não cansa de me surpreender.

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