Em Portugal, mais precisamente, no microclima que temos entre Gaia e Espinho, o verão está tímido. A silly season está no seu auge e já todos contamos os dias para o reboliço de setembro. Ou não. Já que daqui a nada vamos entrar em modo eleições e vamos querer voltar no tempo para os dias parados de agosto.
O resto do mundo vive dias de emergência. No Mediterrâneo, há pessoas, aquelas que conseguem sobreviver, à espera em barcos, enquanto a Europa desvia o olhar e os vários países envolvidos tentam fugir das responsabilidades. Em Hong Kong, protesta-se por mais liberdade e democracia. Na Rússia também, mas estes protestos já foram, entretanto, esmagados.
Mas o que vai marcar mesmo este verão de 2019, na minha humilde opinião, é o estado de emergência climática em que vivemos e que parece não preocupar quem pode tomar decisões para virar o jogo.
No Canadá, na região chamada de "corredor de icebergs", o trânsito é intenso. Estes gigantes de gelo descem em velocidade cruzeiro da Groenlândia para virem morrer na ilha de Terra Nova. Para deleite dos turistas que embarcam em barquinhos para irem ver icebergs que deveriam ter ficado congelados por muitos e muitos anos. Mas derreteram. Nunca os nossos glaciares derreteram tanto e em tão pouco tempo.
Nem de propósito na terra do fogo e do gelo, foi feito um funeral de um glaciar. “Nos próximos 200 anos, estima-se que todos os nossos glaciares sigam o mesmo caminho. Este monumento serve para reconhecer que nós sabemos o que está a acontecer e o que precisa de ser feito”, lê-se na descrição da placa colocada para honrar Okjökull.
O glaciar islandês já não existe e as fotos de satélite mostram como é impressionante a morte declarada do "Ok". Em 1980, o glaciar cobria 16 quilómetros quadrados de superfície. Em 2012, a extensão coberta era de 0,7 km2, segundo um relatório da Universidade da Islândia. É mais um exemplo de como as alterações climáticas estão num caminho imparável e o que para nós pode parecer muito tempo, para o planeta é demasiado rápido.
Para completar este cenário negro, a Amazónia está a ser destroçada. Os números do desmatamento estão a atingir recordes, e as queimadas desta semana, cujas imagens se tornaram virais, são a face mais visível da destruição de uma das maiores riquezas do nosso planeta. E, mais uma vez, quem pode tomar decisões para evitar não se pronuncia, não age e, provavelmente, até vai beneficiar com a exploração dos recursos da maior floresta do mundo - será que ainda a podemos chamar assim?
É desesperador. Quem não pensa nisso, nem que seja por alguns momentos, vive com a cabeça na lua. Pior é pensar que estamos quase de mãos atadas no que toca a estas questões. Podemos com pequenos gestos tentar contribuir para reverter a situação mas, infelizmente, os verdadeiros donos disto tudo não mostram interesse em tentar melhorar o planeta para as gerações vindouras. Até quando vamos continuar a assistir à nossa autodestruição?
Imagem: Iceberg em Terra Nova / Pixabay