Perguntaram-me o que era a poesia

Não soube responder

Senti que deveria escrever

Porque como uma flor que começa na terra

A poesia começa nas palavras

Será mesmo assim?

A poesia começa antes das palavras

Nessa mesma flor, nessa mesma terra

No céu, no mar, no pássaro que voa

Na lágrima que escorre

No sorriso que floresce

No coração que bate

Na vida que renasce

As palavras servem apenas para transcrever

Um pouco da poesia que passa por nós

Como o vento passa entre as folhas

Mas nem todos ouvem

Antes de escrever, é preciso ouvir

Antes de ouvir, é preciso sentir

Só depois de ter percebido a grandeza disso tudo

e a tua pequenez

Estarás pronta para responder

O que é a poesia?

Liberdade para dizer o que mais ninguém ouviu ainda

Era uma vez um mundo perfeito habitado por seres imperfeitos. Nasceram como todos os animais, macho ou fêmea, mas com um cérebro para pensar. Podiam ter pensado em ser iguais, mas não. Era mais fácil pensar em explorar, escravizar, violentar. E assim fica marcada a sua história durante muitos e muitos tempos. A história do Homem, que é contada da perspetiva do masculino. E a Mulher? As mulheres foram a engrenagem silenciosa deste sistema imperfeito. Não porque não quisessem ter voz, apenas porque foram impedidas de falar, de estudar, de evoluir, de pensar, de ser. Tantas possibilidades que foram mortas logo à nascença… só por serem mulheres. As que saíam do silêncio da engrenagem eram eliminadas. Tiveram de lutar muito para conseguirem sair da jaula onde tinham sido colocadas pelo bicho homem. A jaula da fada do lar, da mãe exemplar, da recatada que não fala, não pensa, só obedece, reduzida a um animal doméstico. Infelizmente, muitas ainda continuam presas. Ninguém gosta de ser reprimido, independentemente do género, raça ou credo. A igualdade continua a ser a utopia deste mundo perfeito habitado por seres imperfeitos. E, enquanto houver cérebros que continuem a pensar o contrário, vai valer sempre a pena contar esta história.

O meu reino é feito de areia e água

Talhado pelo sol e pelo vento

Espaços abertos onde se dissolve a mágoa

Fechando os olhos se perde a noção do tempo

Aqui os castelos são movediços

Dunas que se deslocam devagar

Descalça, não há sentimentos postiços

Caminha-se como se estivesse a navegar

O meu reino é feito de conchas e seixos

Que enfeitam um palácio sem portões

Se quiseres, entra, eu deixo

Pois aqui não existem restrições

As gaivotas são mensageiras do horizonte

Trazendo mensagens de além-mar

Porque a tempestade sempre se esconde

Na calmaria azul antes de chegar

Neste teto de céu só há uma hierarquia

A natureza decide o que fica e o que vai

Cada pôr-do-sol é um convite à nostalgia

Num leve embalar que de tudo abstrai

E quando aqui me faço rainha

É no quebrar das ondas que ouço as leis

Porque no meu reino estou sozinha

Não preciso de servos, príncipes ou reis