As palavras querem tempo
Os dias vão passando e elas aguentam. Entre tarefas, teclas e cliques, elas esperam aqui dentro. Vão brotando e querem sair, mas não podem. A semana está quase no fim e vais ganhando aquela angústia miudinha de quem não consegue deitar cá para fora as palavras que nascem dentro de ti.
Estas palavras que guardo comigo são egoístas. Não querem ser divididas com as outras tantas palavras que já estão cá fora e que passam pelos meus olhos, sempre apressadas. Querem estrear um bloco novo ou sentir calma nos dedos, quer seja a segurar numa caneta ou a escrever no computador. São palavras valiosas que não se podem perder no correr do relógio, nem nos automatismos de um teclado. Querem perdurar.
Querem aproveitar a claridade da manhã, entre goles de café e pausas para pensar. Precisam de horas inteiras dedicadas só para elas e não uns minutinhos livres, entre isto ou aquilo. No fim do dia, com a cabeça e os olhos cansados, as palavras perdem a força e, como que adormecidas, desistem de sair, só se mostrando outra vez naquele momento em que estamos quase a entrar no sono profundo.
Outro dia começa e a angústia das palavras presas aumenta mais um bocadinho.
Estas palavras que levas contigo precisam de tempo para sair e tempo é algo que tu não tens.