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Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

As tuas palavras

02.07.14 | Alice Barcellos

É bom saber que ainda estás tão perto. Quando passeio pela Granja, vejo as casas do teu tempo e imagino como seria quando lá passavas os verões. E quando na praia sou assolada por sentimentos que tão bem descreveste. Guardo memórias do mar que se traduzem em tantos poemas teus. É bom saber que partilhamos a mesma cidade e o mesmo jardim, o teu primeiro palácio, que ainda hoje me encanta e surpreende. É bom ter-te ao meu lado e arrepiar-me de cada vez que leio um poema teu, como ainda hoje de manhã aconteceu com este aqui, escolhido ao acaso do livro “Mar”:

Passavam pelo ar aves repentinas,

O cheiro da terra era fundo e amargo,

E ao longe as cavalgadas do mar largo

Sacudiam na areia as suas crinas.

Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,

Era a carne das árvores elástica e dura,

Eram as gotas de sangue da resina

E as folhas em que a luz se descombina.

Eram os caminhos num ir lento,

Eram as mãos profundas do vento

Era o livre e luminoso chamamento

Da asa dos espaços fugitiva.

Eram os pinheirais onde o céu poisa,

Era o peso e era a cor de cada coisa,

A sua quietude, secretamente viva,

E a sua exalação afirmativa.

Era a verdade e a força do mar largo,

Cuja voz, quando se quebra, sobe,

Era o regresso sem fim e a claridade

Das praias onde a direito o vento corre.

Sophia rima com poesia, maresia, fantasia e magia. Sei que voltaste para buscar os instantes que não viveste junto do mar, sei que todos os dias voltas a tocar o coração de alguém com as tuas palavras e sei que estás sempre por perto quando elas são lidas ou ditas. E não existe melhor legado do que este.

 

Para terminar esta homenagem, deixo aqui um poema meu:

Não quero nada

Não quero nada a não ser o sol

Não quero nada a não ser o mar

O desenho da areia em curvas perfeitas sob a água

A pele queimada a saber a sal

As ondas desfeitas em espuma branca e grãos de areia

As pegadas que ora se afundam, ora desaparecem

As conchinhas e búzios, presentes do mar

Não preciso de muito para me sentir bem

Um chapéu, pouca roupa, espaço aberto, brisa calma

O som do teu sorriso misturado com o cantar das gaivotas

E o desdobrar das ondas

Mergulho no atlântico

Gelado e quase revolto

Submersa nestas águas

Sinto-me pura, sinto-me livre

E quando levanto do mergulho final

Secando-me ao sol

Tenho vontade

De pensar em verso

De tentar poesia

De afiar a rima

De lembrar Sophia

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