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Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

Cusco: primeiro deixa-te sem ar, depois ensina-te a saborear com calma

26.06.19 | Alice Barcellos

Chegamos a Cusco. Está frio. O aeroporto é mesmo pequeno. Fugimos aos apelos de táxis logo à saída da porta principal para evitar possíveis preços inflacionados e buscamos outras opções de transportes até ao centro da cidade. Uma delas seria um autocarro cujo bilhete custa 1 sol, mas, ainda sem muito à vontade e com cansaço acumulado das viagens, acabamos por apanhar um táxi que ali circulava - e que por 10 soles nos deixou à porta do hotel. 

Pelas janelas do carro, ao som de música tradicional peruana, vamos sendo apresentadas a Cusco. A primeira impressão não é a mais bonita. Mas é real. Aquela que vemos nas deslocações físicas e não nos feeds de Instagram. A cidade desordenada, entre prédios com tijolos à mostra e habitações pobres. São poucos os minutos que separaram o aeroporto do centro da cidade e é fácil perceber quando chegamos a esta zona mais turística: parece que saímos da América do Sul e entramos na Europa, mais precisamente em Espanha.

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A Plaza de Armas é a sala de visitas de Cusco. Com os seus edifícios coloniais, arcadas e sacadas, a catedral e a igreja, os jardins floridos e uma fonte. A imponência do lugar deixa marcas. E só ainda espreitamos da janela do táxi. Mais tarde, aprenderíamos que a praça não é só a sala de visitas, é o coração da cidade, pulsando ao ritmo dos que por ali passam: turistas, sempre; vendedores, chatos q.b.; locais, a passear aos fins de semana; crianças de uniforme a sair da escola ao fim da tarde; cães, muitos, integrados na paisagem. 

Chegamos ao hotel. Respiramos fundo mas parece que o ar não chega. A altitude faz-se sentir e afinal não é só um aviso que lemos antes de viajar. É preciso ter calma, fazer a aclimatação aos 3.400 metros. O chá de coca é um dos grandes aliados e saboreamos o nosso primeiro - de muitos - no pátio interno do hotel, a apreciar a bonita arquitetura deste antigo palácio colonial. No meio do pátio, um pequeno chafariz enfeitado com lírios fúchsia. Lindo!

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Muitos dos edifícios coloniais de Cusco foram erguidos sobre as bases de pedra dos palácios incas. A cidade era a capital do império inca mas os espanhóis eliminaram quase por completo o património edificado. A caminhar pelo centro de Cusco reparamos nos vestígios incas, pedra sobre pedra, em alguns edifícios coloniais e no resistente Coricancha, o templo do Sol, que ainda é visível por baixo do Convento de Santo Domingo. 

Para ficar a conhecer mais sobre os incas e os outros povos originários do Peru e dos Andes, é obrigatório entrar no Museu Inka. Um ótimo complemento para ajudar a assimilar tudo o que aprendemos nas visitas a Machu Picchu e ao Vale Sagrado

É com passos lentos, aqui não vale a pena ter pressa, que melhor se conhece o centro da cidade, em que a Plaza de Armas é o ponto de partida e de chegada para explorar outras praças mais pequenas, o mercado, os centros de artesanato, as lojinhas, os cafés e os restaurantes. 

E por falar em restaurantes, não poderia ter ficado com melhor impressão desta cidade. Não comemos mal uma única vez e tivemos mesmo das melhores experiências gastronómicas das nossas vidas no Morena Peruvian Kitchen e no Organika.

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Por ordem na imagem: Causa limeña, salada andina com quinoa, ceviche de truta, rocoto relleno (pimento recheado) com pastel de papa e picarones - uma pequena amostra da gastronomia peruana

Diferentes no conceito e nos pratos, estes espaços tinham em comum a frescura dos ingredientes - do campo para a mesa -, o cuidado na apresentação dos pratos - uma salada sem flores fica sem graça - e na simpatia dos funcionários. Comida deliciosa, sem modas e a um preço acessível. Recomendo e voltaria a Cusco só para ir outra vez a estes restaurantes.

Na nossa última noite em Cusco, depois de comer no Organika, demos mais um passeio pela Plaza de Armas. A temperatura caíra, a lua cheia brilhava no topo da Igreja da Companhia de Jesus. Aconcheguei-me no meu cachecol comprado em Chinchero, quentinho, de lã de alpaca, e tentei guardar para sempre aquela cidade na minha memória. Mal eu sabia que ela já tinha conquistado um espaço no meu coração. 

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