Fazer história
Daqui a alguns anos, quando os nossos filhos estudarem história, o que é que vai ser lhes dito sobre o início do século XXI em Portugal? Quais vão ser os acontecimentos mais marcantes e quem vão ser as personalidades impressas nas fotografias dos manuais escolares?
Talvez, mesmo quando os nossos netos cheguem lá, seja ainda cedo para se fazerem novos manuais, seja ainda cedo para se fazer história e para se perpetuar uma história.
Quando eu estudei a história do século XX, admirei-me com as grandes personalidades, os grandes líderes deste século. Não eram perfeitos, ninguém o é, mas entregaram-se a causas e mudaram o mundo. Deram sangue, suor e lágrimas pelo seu país, pelo seu sonho, loucura ou propósito.
Hoje, em Portugal, temos um ministro das Finanças que saí pela porta de trás, e se houvesse um túnel como saída era por lá que ele ia, que se despede com um comunicado, deixando centenas de perguntas por fazer.
Temos um Governo fantoche que faz da política uma novela. Não temos políticos, temos atores. Não temos líderes, temos economistas, tecnicistas ou ilustres desconhecidos (conhecidos “lá fora”) que acabaram por enveredar na política. Paulo Portas, este sim um animal político, conseguiu degenerar a sua imagem desde que está nesta coligação. E se a escolha da ministra das Finanças foi a gota d’água para a sua demissão, a demissão de Paulo Portas foi a gota d’água para o pouco crédito que eu (e espero que muitas mais pessoas) ainda lhe dava.
Estes homens que se dizem políticos não vão conseguir fazer história mas podem entrar nela assim meio sem querer, tal como foram parar na política. O povo, esse sim, podia fazer história, nas ruas e na urnas. Na falta de líderes políticos, a democracia precisa de se reinventar. Resta saber se vai conseguir.