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Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

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Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

Fim de verão

11.10.20 | Alice Barcellos

Tinha chovido. A prometida chuva de que falavam desde segunda-feira. Era quinta e, finalmente, tinha chovido. Mas pouco. O suficiente para deixar no ar aquele inconfundível cheiro a terra molhada, que me fez sair do prédio e respirar fundo para reforçar na memória as memórias que tenho deste cheiro. Infância, banho de chuva, pés descalços, felicidade. Depois disso, olhei para o céu e vi uma luz estranha, nuvens douradas que corriam depressa. O relógio dizia-me que estava quase na hora do pôr do sol. Mas ainda daria tempo para descer de carro até à praia.

Lá fui eu, pelo caminho do mar. Quando cheguei, foi isto que vi, isto que não o é. Nenhuma fotografia consegue captar a grandiosidade de certos fins de tarde. Este foi um deles. Ainda assim, eu tentei. Desci do carro, telemóvel na mão. Pisei a areia ainda marcada pelas gotas de chuva e subi numa rocha.

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Silêncio. Praia vazia. Quem passava parava para apreciar o momento. Um casal a passear o cão, um homem a fumar um cigarro dentro do carro. Mais alguns caminhantes. Naquele instante, éramos apenas pessoas a olhar o céu. E não há nada de errado nisso. O que será que cada um sentiu neste momento tão fugaz? O verão já acabou, passa sempre tão rápido. Tenho saudades de pessoas e lugares que nunca estiveram tão distantes. A pandemia é uma merda, mas vamos (temos) de passar por isso. Foi o que eu pensei. E que a saudade, tal como certos fins de tarde, não cabe numa fotografia.

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