Os mortos são sempre inocentes
São dezenas de corpos dispostos no chão, envoltos em lençóis brancos, olhos fechados, expressões serenas. Muitas crianças. São a geração perdida e destruída pela guerra. Estas já não vão poder ver o seu país em paz, algumas delas nasceram e morreram durante este conflito, que já entrou no terceiro ano. Numa guerra não há vencedores nem derrotados, não há inocentes, nem culpados. Mas ao olhar para estas imagens tão nítidas do último massacre na Síria, penso que os mortos são sempre inocentes.
Hoje, durante a manhã de trabalho, vi muitas fotografias das vítimas de um ataque químico nos arredores de Damasco. Fiquei por ali, deixei-as terem efeito sobre mim e decidi não usá-las no site. Não era preciso. Ontem foram publicadas noutros sites, até naqueles (que se dizem) de referência. Não consigo pensar em mais palavras e frases para explicar como este conflito me revolta (como todos os conflitos me revoltam) e como não se faz nada para parar, atenuar, conter tantas atrocidades. Os media tomam cada vez mais uma postura de abutres, à espera de imagens e notícias como estas para nos brindarem com os horrores de mais uma guerra sem fim à vista.
Aí pelo meio, há muita gente a faturar com as armas vendidas para os dois lados, há muita gente a dar tudo no terreno para tentar ajudar, há muitas histórias por contar. E há os mortos, que já não são mortos, são números, que no fim do conflito vão ser citados vezes sem conta nas notícias.