Pés de lã
Para os meus gatos
Os gatos têm pés de lã. De pantufas invisíveis, os gatos entram sem pedir licença, alguns mais dóceis, outros mais ariscos. Os gatos, com a sua arrogância natural de quem tem sete vidas e cai sempre de pé, caminham sem fazer barulho. O chão para eles é como nuvens, sempre suave ao seu andar silencioso.
Os gatos têm pés de lã. Não gostam de dormir durante a noite, preferem vaguear à sombra da lua, a procurar brigas de rua. Voltam cansados e mal dispostos, com o focinho arranhado, de vez em quando. Esgueiram-se pela porta mal fechada e procuram o conforto do sofá para o sono merecido. Que também pode ser no chão do pátio, naquela nesga de sol, ou num canto da garagem, em cima de uma mochila esquecida. A cama é onde se deitam. Dormem, sempre, profundamente, até serem acordados por ruído ou voz.
Os gatos têm pés de lã que escondem unhas afiadas. Tudo serve para afiar as garras, o tronco de uma árvore ou umas simples calças de ganga. Os gatos arranham e fazem-nos sangrar, mesmo quando estamos a brincar com eles.
Os gatos têm pés de lã. Não precisam de nós e, alguns, não gostam mesmo de nós, aproveitam-se. Mas os que gostam, demonstram, com ronronares deliciosos que descansam os ouvidos de outros miados e meandros. Eles não precisam de nós, mas quando querem, fazem do nosso colo cama e partilham connosco os seus olhares felinos mais doces.