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Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

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Seis coisas que queria dizer a quem não foi votar nas Europeias

27.05.19 | Alice Barcellos

Depois de uma campanha que se centrou, maioritariamente, na política nacional, este domingo os portugueses foram chamados às urnas para eleger os seus representantes do Parlamento Europeu. Resultado nada surpreendente: os portugueses não querem saber de política e muito menos do Parlamento Europeu. Quase 70% dos eleitores preferiram ignorar o domingo de eleições e aproveitar o dia de descanso de outras formas. 

Se fazes parte desta maioria silenciosa e estás a ler este texto, gostava que refletisses comigo sobre:

1. Portugal na cauda da Europa, no fim do continente, de costas voltadas para a Europa. São expressões que sempre ouvimos dizer e que me fazem questionar: será que, de facto, a maioria dos portugueses não se sente integrada na Europa? Não acreditam que fazem parte de um projeto comum que, apesar das vicissitudes e defeitos, já beneficiou e melhorou a vida de muitas pessoas? 

2. Não votar é uma forma de protesto. Temos ouvido por aí este argumento, de que não votar é uma forma de expressar descontentamento, é uma escolha. É um argumento válido, mas que não pode ser simplesmente usado para os cerca de 7 milhões que não foram votar.

Estes números demonstram que o direito ao voto tem cada vez menos valor para quem, de facto, o pode fazer valer. Votar em branco ou nulo também é uma forma de expressar descontentamento, de protestar contra as escolhas que nos são apresentadas no boletim de voto. Seria um caminho a seguir para quem não está de acordo com os atuais líderes políticos que temos. Daí que este argumento de não votar como forma de protesto é pouco convincente. Há um grande fosso a separar eleitores e classe política em Portugal e os números da abstenção são a prova disso - e não são uma novidade destas eleições...

3. A culpa é dos políticos e da comunicação social. Em parte, sim. Pelo que segui da campanha, pareceu-me um treino para as próximas legislativas, mas não podemos generalizar. Nem no caso dos políticos, que não são todos iguais, nem no caso da comunicação social. Quem é que hoje em dia só assiste a telejornais? É cada vez mais fácil ir buscar informação que nos interessa em diferentes meios. E há muita coisa boa e credível a ser publicada todos os dias. Por isso, em última análise, cabe a cada um procurar ser um cidadão informado para conseguir tomar melhores escolhas.

4. Vitória da esquerda. A esquerda saiu vitoriosa em Portugal, com a vitória do PS, no geral, e grandes conquistas para o Bloco de Esquerda e PAN - que, pela primeira vez, elege um deputado. Na Europa, o "centrão" foi penalizado e o Parlamento Europeu fica mais fragmentado, com o crescimento de partidos nacionalistas, verdes e liberais. 

5. A crise climática é, talvez, o maior problema que o mundo enfrenta. O crescimento dos partidos ecologistas nestas eleições pode ser um sinal de esperança para quem, como eu, acha que quase nada está a ser feito para combater este problema.

6. A Europa precisa continuar a ser o exemplo que sempre foi. Numa altura em que cresce a tensão entre classes sociais, o discurso de ódio, a perseguição a minorias, o domínio do grande capital e os extremismos políticos um pouco por todo o mundo, a Europa precisa continuar a ser o exemplo de solidariedade social que foi construindo ao longo da sua história recente. O investimento em educação, saúde e políticas de igualdade continua a ser a chave para o desenvolvimento de sociedades mais justas. Ao contrário de Portugal, o crescimento da participação dos eleitores no conjunto dos 28 países mostrou que os europeus querem ter uma palavra a dizer na escolha deste caminho a seguir. 

vote-1804596_1920.jpgSe tens alguma coisa a dizer sobre esta análise, partilha comigo no espaço de comentários e, nas próximas eleições, expressa-te através do teu voto. Ele pode fazer a diferença, sim. 

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