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Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

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Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

Serra do Açor: o xisto combina com o amarelo

04.04.19 | Alice Barcellos

 

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A serra é dura, árida e isolada. Entre curvas e contracurvas, avistamos precipícios e, lá ao fundo, um aglomerado de casinhas revela mais uma aldeia perdida. "Como as pessoas conseguem viver ali?" é a pergunta que nos vem à cabeça enquanto vamos vendo passar pelas janelas do carro aquela singular paisagem. 

Há séculos que os portugueses domam o Açor, que se aninha ali entre a Estrela e a Lousã, com as suas encostas xistosas, como grandes asas escuras, que escondem pequenos tesouros naturais. Um deles é a Fraga da Pena, com as suas quedas de água refrescantes; o outro, a Mata da Margaraça, que guarda ainda exemplares raros da flora da região.

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O contributo humano, que está cada vez mais na moda, são as aldeias de xisto, com as suas casas de contos de fadas construídas como num jogo de tetris. Piódão é a que ganhou mais fama nos últimos anos e compreende-se o motivo. Entrar na aldeia é quase como entrar num cenário de filme. A cada passo, a vontade é parar para tirar mais uma foto de um pormenor que não queremos deixar escapar: uma janela com cortinados de croché, uma porta azul, uma escada florida, uma chaminé, o recorte das montanhas à volta.

Ao longe, a vista para Piódão é quase surreal, mas quando percorremos a aldeia-presépio também sentimos aquela sensação que só estes lugares nos dão: de que o tempo aqui corre mais devagar e dá-nos lições do tempo em que se aprendia muito com a natureza, com as suas dinâmicas e com o seu próprio calendário. 

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Quem passa por Piódão, provavelmente vai acabar por chegar até Foz d'Égua, o bucólico ponto de encontro da ribeira de Piódão e da ribeira de Chãs. O lugar perfeito para contemplar a paisagem; fechar os olhos e ouvir a água a correr; apreciar o contraste do amarelo das giestas com o escuro do xisto e perceber que, afinal, também poderíamos viver aqui.

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