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Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

Diário de fuga

Na rotina dos sonhos fugimos dos dias

Vida com sabor a chocolate branco

05.01.19 | Alice Barcellos

Ainda era uma menina. Gostava de boys bands, sonhava com um futuro brilhante e feliz, comprava revistas para adolescentes, tinha medo de filmes de terror e quase que acreditava em feiticeiros enquanto devorava os livros do Harry Potter. A vida era simples, apesar de se ter mudado há pouco tempo para um país diferente que, apesar da mesma língua, ainda não tinha mostrado outras semelhanças com a sua terra natal. Mas sentia-me em casa. Ia a pé para escola, inventava aventuras na cidade de praia onde vivia e escrevia rimas no meu diário. Era tão bom viver com o mar mesmo ali ao fim da rua. "Em Espinho é assim, desces as ruas e acabas sempre no mar". Foi o que ouvi dizer e pude comprová-lo nos anos que ali passei.

Não guardo grandes memórias desta época, entre a escola e os tempos livres, há uma lembrança que vem sempre ao de cima quando como chocolate branco. Num dia destes, sentada com a minha mãe numa mesa de café, ela ofereceu-me uns quadradinhos de uma tablete que trazia na bolsa. Ali, naquele momento de cumplicidade, contei-lhe que sempre que comia chocolate branco me lembrava dos tempos de Espinho.

De vez em quando, naquela altura, a minha mãe dava-me uma tablete para eu levar para a escola, um miminho para a hora do lanche. Um pequeno tesouro que desembrulhava cuidadosamente do papel de alumínio e partilhava com as minhas amigas mais chegadas. Naquele tempo, e já lá vão alguns anos, saboreávamos o chocolate sem pensar nestas questões chatas que importunam muitas pessoas (muitas mulheres, principalmente) neste mundo de padrões, pressões, modelos e hábitos de vida saudáveis. Naquele tempo, aquele chocolate era inofensivo e aqueles quadradinhos eram pequenas porções de felicidade instantânea.

Os anos trazem com eles outras histórias. A menina virou mulher, já não vive na cidade de praia, mas o amor pelo mar e pelas coisas simples da vida andam sempre estampados no seu sorriso. A vida nem sempre é doce, mas deveria ter mais vezes o sabor a um quadradinho de chocolate branco.

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